Um grupo de patrões de escolas privadas, pais e responsáveis organizou um protesto que reivindica a reabertura das atividades presenciais das escolas particulares e públicas de Cabo Frio, em uma atitude repleta de contradições negacionistas contra a ciência. Essa reivindicação, se implementada pelo poder público, colocará em risco as vidas não só dos integrantes das comunidades escolares, como também toda a população de nossa cidade, tendo em vista o aumento da transmissão do vírus que fatalmente ocorrerá devido à reabertura de centenas de escolas e creches.

A reabertura das atividades presenciais escolares antes que a pandemia esteja controlada e antes que haja a vacinação massiva da população é um desatino, pra dizer uma palavra branda. E esse absurdo é proposto há poucos dias da notícia de que o Brasil ultrapassou a macabra barreira das 200 mil mortes por Covid-19; isso sabendo que o estado do Rio de Janeiro tem a maior taxa de letalidade do Brasil pela doença – já morreram mais de 27 mil moradores de nosso estado vítimas da pandemia. 

Outro dado importante: uma pesquisa realizada na rede pública dos países do Reino Unido, na Europa, no período de 12 semanas até dezembro do ano passado, comprovou que a reabertura das escolas fez com que as unidades de ensino se tornassem o 2º mais alto vetor de contaminação da Covid-19, só perdendo para as casas de repousos de idosos. Recentemente, no dia 4 de janeiro, o premiê britânico Boris Johnson foi forçado a decretar um novo confinamento, com o fechamento total das escolas, dada a explosão dos contágios no país. A reabertura das atividades econômicas e das instituições de ensino fizeram com que a Inglaterra registrasse em janeiro deste ano uma média de 60 mil casos diários de contágios pelo novo coronavírus.

É importante ressaltar que as escolas europeias têm condições muito melhores de infraestrutura e recursos financeiros e humanos do que as escolas da rede pública brasileira, nas quais mesmo após mais de 10 meses desde o início da pandemia se investiu pouco ou quase nada em obras de adaptação da infraestrutura escolar para garantir segurança sanitária. Mesmo com essas melhores condições, a taxa de contágio entre os alunos e profissionais de educação da Inglaterra é de quase 30% dos casos pesquisados — muito provavelmente em nosso país essa taxa é ainda maior.

Cabo Frio já teve, até agora, 226 mortos pela Covid e quase 5 mil casos de infectados oficialmente contabilizados. A cidade é o pólo de saúde da Região dos Lagos e recebe demandas de atendimento médico de todos os municípios vizinhos. O recrudescimento da pandemia, que alguns especialistas caracterizam como uma “segunda onda”, já está ocorrendo.

Nossa cidade e os municípios vizinhos, pólos turísticos nacionais, receberam milhares de pessoas para as festas de fim de ano e estamos para atingir o limite de 15 dias desde o Ano Novo quando moradores locais tiveram contato estreito com milhares de turistas — ou seja, as pessoas contaminadas nesse período ainda vão “bater nas portas” de nossos hospitais e postos de saúde, considerando que o “período de incubação”, que se refere ao tempo entre a infecção do ser humano pelo vírus e o início dos sintomas da doença, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), varia de 1 a 14 dias. Como então a prefeitura pode permitir a reabertura das atividades presenciais nas escolas e creches, quando é provável que teremos um colapso sanitário em nossa cidade?

O Sinpro Lagos e o Sepe Lagos reafirmam a confiança na ciência e defendem uma política séria de combate à pandemia, que seja coerente com a gravidade epidemiológica que o nosso país, estado e município estão enfrentando. É preciso criar condições que propiciem à população usar máscaras, evitar aglomerações, redobrar os cuidados com a higiene, manter o máximo isolamento físico que for possível e aguardar que seja executada a vacinação massiva da população.

A prefeitura precisa estabelecer, em diálogo com os trabalhadores da saúde e da educação, protocolos sanitários claros e eficientes para as escolas da redes pública e privada e deve também realizar os investimentos necessários para a adaptação das escolas à realidade da pandemia, não apenas oferecendo álcool em gel e sabão, mas levando em conta as especificidades de cada unidade escolar.

O Sepe Lagos e o Sinpro Lagos são radicalmente contra a volta às atividades presenciais nas escolas, tendo em vista o cuidado que precisamos ter não só com a nossa categoria de profissionais da educação — docentes e não docentes —, mas também com os estudantes, pais e responsáveis. 

Que os organizadores desse protesto que pede a volta às aulas tenham bom senso e aguardem a normalização da situação. Os milhares de mortos em toda Região dos Lagos são um sinal bem evidente do quão grave é a pandemia.

SINDICATO DOS PROFESSORES DA REGIÃO DOS LAGOS (SINPRO LAGOS) E SINDICATO ESTADUAL DOS PROFISSIONAIS DE EDUCAÇÃO NÚCLEO LAGOS (SEPE LAGOS)

#NãoéUmaGripezinha

#EscolasFechadasVidasPreservadas

#VacinaParaTodosJá